domingo, novembro 11, 2007

Filosofia fast-food

Nossa primeira postagem. A idéia é discutir sobre um assunto qualquer. Ou sobre um tema. Ou tanto faz. Neste post é sobre o livro "Karl Marx em 90 minutos".




Karl Marx é como Che Guevara: só tem uma foto tirada na vida.

As idéias dele foram importantes para a época e definiram o século XX, mesmo que de forma diferente do que ele havia previsto.

Em suas obras Marx faz análises sobre a relação entre trabalhador e empregado. O dono e o empregado. O salário e o lucro. Ele analisa do modo mais empírico possivel, para uma ciência sociológica na época, toda essa relação. Com fórmulas e tudo mais. Um escândalo para a época. Revolucionário.

Resumindo, não são livros para se ler ao acordar pela manhã em um acampamento perto da cachoeira na serra do cipó. Alguém deve ter feito isso. E deve se lembrar com embaraço.

Atualmente vivemos em uma sociedade com muitas definições, muita papagaiada e especulações. 150 anos depois do Manifesto de Marx a informação de seus livros podem ser acessados por um computador em qualquer parte do mundo. O mais impressionante é que seus preceitos e definições são irrelevantes. Como chegamos nisso?

Não sei. O fato é que, penso eu, a necessidade que há pelo consumo é tão alto que a idéia de felicidade, mesmo que etérea, budista, cármica, mística, vem do consumo. A propaganda dos produtos de soja da Nestlé é um exemplo disso: seja saudável, compre nossos produtos e tenha atitude (não nessa ordem, nem existe uma).

As idéias de Marx viraram butique. Como Che. Vende-se um estilo de pensamento a preços bem módicos. É uma diversão. "Eles venceram". Então uma idéia de uma sociedade comunista é real, no mundo virtual. Totalmente inócua. A África é um continente desprezado e a América Latina, pobre-coitadinha. Toda a idéia de OLPC (One Laptop Per Child) e Inclusão Digital mascara a idéia principal: tomem as sobras do mundo pois não há possibilidade de mudança.

Para terminar, vi o gerente de onde trabalho com um livro mais fino que uma HQ: "Karl Marx em 90 minutos". Observação: esse gerente é um típico patrão do século XIX e os presidentes da empresa são típicos senhores feudais do séc. X. Não sei o que é mais triste: a ironia sem-graça ou a verdade frustrante desse quadro diário. Mundial.


A única coisa que sei sobre Marx é que ele existiu. Não sei se sou felizarda ou infeliz por saber tão pouco a respeito.
Sei o que vejo, pelo que passo. Sei que no mercado onde trabalho há um sorveteiro que lê Marx; há meses. Ou ele não entendeu (como eu, em adolescência lendo A Insustentável Leveza do Ser) ou é apenas um gordinho com complexo de inferioridade tentando mostrar que por detrás da máquina de sorvete existe vida inteligente.
Um dia desses ele entrou na adega onde trabalho e ficou olhando para tudo exatamente como alguém olha para um quadro abstrato interessado em decifrá-lo.
Ao perguntar se queria ajuda, ele respondeu que estava apenas olhando, já que gosta de "lojas assim, conceituais".
Tive vontade de dizer que a palavra "conceitual" é tão vastamente empregada e sua significância é tão maleável que quase tudo pode ser (e é) chamado de "conceitual". Não sei porque não disse isso. Talvez por causa de sua atitude orgulhosa, de pessoa que pensa ser superior porque... lê Marx.


Nessas horas a palavra "pasteurização" me vêm a cabeça.
Não digo q seria a pasteurização dos leites longa-vida temperados com soda caustica e afins.
Mas essa mania de receber tudo mastigado.

Diz-se que em uma dia inteiro, hoje, você está sujeito ao mesmo tanto de informação que alguém estava a 1 século atras por toda uma vida.
Não duvido que seja, só duvido da qualidade dessa informação.
Na década do "blog" e do "orkut", as pessoas estão escrevendo cada vez mais, mas sabem ler cada vez menos.

No ônibus, todos carregam sob as axilas seus jornais de 25 centavos com direito a tabela do Brasileirão e a uma gostosa com fotos provocantes.
Séculos de sabedoria chinesa são transformados em livros finos que ensinam que não se deve ter em casa escadas com degraus vazados e deve-se colocar um espelho de frente a porta de entrada.

Isso tudo é pasteurizado e embalado para nós, cidadãos contribuintes.

Não sei o que dizia Marx. E não sei o que dizia Freud.
Não tenho a menor vontade de saber o que Nietzsche dizia.
Acho que sou mais feliz na minha ignorância. E se precisar, vou no Wikipedia e descubro.

Por que, pasteurizado por pasteurizado, até costas de caixa longa-vida tem informação.